Por que investir em estratégias de atração de talentos? Será que é realmente necessário?
A indústria de aviação civil no mundo todo tem enfrentado dificuldades em atrair e/ou reter talentos. Independente do setor: Empresas aéreas, aeroportos, prestadores de serviços, etc. – todos sabem o quão difícil é atrair e manter talentos em seu quadro de colaboradores. Mas será que a “culpa” deste problema é única e exclusiva das organizações? Será que as estratégias utilizadas não são eficazes? Eu acredito que não existe um único “culpado”, mas sim uma série de fatores internos e externos que influenciam as novas gerações de profissionais a ter menos interesse pela indústria.
A preocupação com a atração e retenção de talentos é tão relevante que a Organização de Aviação Civil Internacional (ICAO) lançou em 2009 o programa Next Generation Aviation Professionals (NGAP) cujo principal objetivo é garantir que um número suficiente de profissionais qualificados e competentes estejam disponíveis para operar, gerir e manter o futuro do sistema internacional de transporte aéreo (ICAO, n.d). Tal programa tem como missão desenvolver estratégias, boas práticas, ferramentas e diretrizes a fim de facilitar o compartilhamento de informação que auxiliem a indústria a atrair, educar e reter talentos (ICAO, n.d).
Uma das externalidades, no que diz respeito à atração e retenção de talentos, são outras indústrias que têm despontado no mercado de trabalho. Setores como o de tecnologia e financeiro estão dentre os que ofertam os salários mais atrativos do mercado, e acabam levando para seus negócios tanto os novos profissionais de aviação, quanto os mais experientes. Esta migração de talento ficou bastante evidente nos momentos de crise que passamos em 2020 e 2021. Empresas em todas as indústrias precisaram dispensar uma quantia significativa de colaboradores e aumentar as suas “densidades de talento”, trabalhando com menos pessoas, mas que em sua grande maioria são overachievers. As indústrias com maiores salários e/ou que foram menos severamente impactadas pela crise, aproveitaram a situação e atraíram talentos da aviação, oferecendo maior estabilidade e maiores benefícios/compensações financeiras.
Mas e o que as empresas na indústria de aviação podem fazer? Um ponto importante é ter profissionais que acreditam na missão e ambições da empresa. Pessoas que trabalhem em algo que realmente acreditam, não somente serão menos atraídas por outras organizações (retenção), mas também irão funcionar como uma forte ferramenta de atração a novos talentos. Mas como podemos aumentar o número de profissionais que realmente acreditam no que a empresa está fazendo/tentando atingir? Na minha opinião, a comunicação clara e transparente por parte das lideranças é ponto chave para o sucesso. Garantir que todos saibam exatamente onde a empresa quer chegar e, consequentemente, possam traçar objetivos individuais claros e tangíveis é essencial para a retenção e atração de novos talentos.
Em um dos meus artigos anteriores escrevi sobre capacitação de pessoas – esse, na minha opinião, é outro importante investimento na atração e, principalmente, retenção de talentos. Perceber que a empresa para qual você trabalha acredita em seu potencial, e está disposta a investir tempo e dinheiro para torná-lo um profissional mais bem preparado, traz um sentimento de valorização ao indivíduo.
De qualquer maneira, a atração e retenção de talentos na aviação civil é um problema enfrentado por todos os setores da indústria, e deve ser “combatido” de frente, de forma proativa e que entregue resultados tangíveis aos atuais e potenciais indivíduos na força de trabalho. É responsabilidade de todos os setores dentro da indústria garantir que as novas gerações de profissionais, assim como as já existentes, se sintam atraídas a trabalhar com a aviação. Caso contrário, quem sai perdendo não é a empresa “A” ou “B”, mas sim a indústria como um todo.