Ao longo do processo de crescimento “ilimitado e incondicional” do transporte aéreo, nas últimas décadas, tal qual adolescentes, vivemos como se não houvesse amanhã!
É instigante e desafiador, o momento vivido pela atividade do transporte aéreo mundial, à medida que nos afastamos da pandemia!
Ao longo das últimas décadas, como crianças em processo de crescimento natural, a atividade vinha ultrapassando marcas, quebrando barreiras, experimentando um processo de expansão com limites absolutamente indefinidos… e acumulando vícios, dilemas e dificuldades que, como ser vivo que é, solucionou do jeito que deu, sob a pressão natural de uma atividade, historicamente submetida ao dilema do “crescer ou morrer”!
Eis que, de repente, a pandemia – um desastre sanitário que atinge o coração do transporte aéreo, em plena vida adulta, carregando dentro de si, os traumas e questões mal resolvidas, acumulados, desde sua infância, ao longo de uma juventude vivida sob a lógica do crescimento a qualquer custo!
Em seguida a um primeiro momento de perplexidade, o cenário era devastador. De repente, tornava-se evidente que a pandemia não seria um evento pontual – um instante, um susto!
Meses, talvez anos… e afinal, qual seria o destino de uma atividade condenada à lógica do “crescer ou morrer”, ante a perspectiva de uma retração de demanda, tão longa quanto inédita na história do transporte aéreo?
É preciso lembrar que por trás de qualquer atividade humana, há um elemento comum – o ser humano! Companhias Aéreas, Operadores Aeroportuários, Autoridades Reguladoras, Passageiros… o que há por trás de cada um destes setores é comum – seres humanos.
Ao longo do processo de crescimento “ilimitado e incondicional” do transporte aéreo, nas últimas décadas, tal qual adolescentes, vivemos como se não houvesse amanhã!Desenvolvemos hábitos, vícios, atitudes e comportamentos, muitas vezes conscientemente nocivos à atividade, por diferentes razões, que vão do individualismo e oportunismo humanos, à necessidade de lucro, das corporações.
Incluam-se aí exemplos de todas as naturezas – a “última chamada”, que não é realmente “última”; o “pronto para o táxi”, que não é realmente “pronto”; a “bagagem de mão”, que não é realmente “de mão”… e por aí vai! Do passageiro VIP ao funcionário de rampa mais humilde, todos – e por consequência, as entidades que representam, e a própria atividade do transporte aéreo, nos transformamos em adultos problemáticos – bem sucedidos e mal educados!
Mas eis que, para nossa surpresa, a atividade resiste! Os fundamentos básicos que sustentam o transporte aéreo, não foram destruídos pela crise sanitária sem precedentes, na história da atividade. Por diferentes razões, pessoas e cargas ainda precisam deslocar-se, com base em princípios que só o transporte aéreo pode atender.
Estamos todos, portanto, e supreendentemente, ante a oportunidade de uma nova adolescência!
Diversos modelos operacionais, conceitos de serviço e paradigmas de negócio, já se apresentam como soluções mágicas – é tendência natural dos seres humanos, por instinto de sobrevivência, transformar crises em oportunidades!
O que não se pode perder de vista, e isto é válido para todo e qualquer indivíduo que participa da atividade do transporte aéreo – do passageiro VIP ao funcionário de rampa, é que mais do que qualquer modelo operacional, conceito de serviço ou paradigma de negócio, o que esta nova adolescência da atividade nos oferece, é a possibilidade (e o desafio) de mudar hábitos, sanar vícios e curar traumas.
Já não estamos nos anos 90. Já sabemos que existe o amanhã e como ele se parece, se repetirmos o processo de crescimento incondicional e ilimitado do passado. Afinal, de seres humanos é feito o transporte aéreo, e esta nova adolescência, que temos a oportunidade de viver, nos convida a um “novo amadurecimento” – mais são e mais eficiente, tanto para os indivíduos, como para as corporações.